quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Rompendo a cortina da invisibilidade e conquistando espaços na sociedade

 Aconteceu entre os dias 10 e 12 de setembro/14, em Irecê-BA, o I Encontro Estadual de Agricultoras Experimentadoras da Articulação Semiárido Brasileiro (ASA) com o  tema: Celebrando Conquistas na Trajetória da ASA no Semiárido Baiano.
Participaram cerca de 90 mulheres entre agricultoras e técnicas de diversos territórios onde a ASA atua na perspectiva da convivência com o semiárido.
O encontro teve como objetivo refletir sobre o papel da mulher na sociedade, na convivência com o semiárido e na ASA. Outro objetivo foi colocar as agricultoras em sintonia com o Encontro Nacional de Mulheres que acontecerá em Campina Grande, na Paraíba, nos dias 23 e 24 /09, onde 20 agricultoras da Bahia participarão.
Na tarde do primeiro dia houve uma apresentação do filme “A Vida de Margarida”, produzido pelo Polo Sindical da Borborema, na Paraíba. O filme faz um relato do cotidiano de uma família agricultora, onde a cultura patriarcal e machista ainda impera, onde a desigualdade entre homens e mulheres é gritante, numa terra onde os homens mandam e as mulheres obedecem.
Ao término do filme as participantes recordaram fatos vivenciados em suas comunidades e experiências similares a da protagonista do filme.
Precisamos perder o medo e ir à luta para defender nossos direitos - nós somos mulheres, somos gente!” Adriana Silva Oliveira – Rede Organizacional em Defesa da Água (RODA).
As participantes foram convidadas a refletir se a vida é igual para homens e mulheres, onde estão e quais são as origens das desigualdades. Motivadas pelo debate sobre a divisão sexual do trabalho dentro de uma unidade agrícola, as participantes construíram um mapa da propriedade onde puderam relatar quais são seus espaços de atuação.
“Hoje quebramos várias barreiras, mas ainda existe muita desigualdade entre homens e mulheres. Vemos que existem transformações, mas ainda há muito a ser feito. Devemos discutir gênero. Esse diálogo tem que ser feito com homens e mulheres, eles têm que estar bem relacionados!” Tarcísia - Associação Regional de Convivência Apropriada ao Semiárido (ARCAS).
Tais contribuições serviram para nortear a reflexão sobre a importância e a valorização das mulheres no núcleo familiar, seu reconhecimento e sua identidade, levando-as a perceber que a conquista de direitos faz parte de um processo de auto-organização, persistência e lutas.
Divididas em cinco grupos de trabalho aprofundaram os temas: Manejo da Água nos Quintais, Plantas Medicinais, Sementes e Diversificação Produtiva, Pequenos Animais e Acesso aos Mercados.

Através das experiências apresentadas, as agricultoras identificaram sua potencialidade e autonomia na geração da renda familiar. A valorização dos arredores da casa como meio produtivo capaz de garantir a segurança hídrica, produzir alimentos e gerar renda, contribuiu para que o trabalho da mulher agricultora fosse visibilizado.
No final do dia aconteceu a Troca Solidária, um momento em que as agricultoras apresentaram os frutos de seu trabalho e da sua dedicação como: artesanatos, biscoitos, cocadas, receitas, sementes e mudas. Num clima descontraído e alegre fizeram as trocas e tiveram a oportunidade de comercializar seus produtos.
Para encerrar a noite as agricultoras se divertiram, dançando e cantando ao som de Denise Reis (Morro do Chapéu-Ba).
Na manhã de sexta-feira elas voltaram a se reunir com a proposta de identificar os desafios que ainda devem ser enfrentados e em que a ASA poderá ajudar.
Nessa dinâmica as agricultoras apresentaram seus anseios, falaram da importância de não se calarem e não guardarem só para si as experiências produzidas no campo, em casa e em suas organizações, mas compartilharem o que deu certo e quais os caminhos percorridos para alcançarem  êxito.
Destacaram a importância de cada uma ter a curiosidade de buscar informações sobre o que está acontecendo em sua comunidade, tornando-se cada vez mais participativas e autoras de seu próprio destino.
Foi colocada a preocupação com a educação escolar dos filhos e filhas, que muitas vezes é distante da realidade do campo e o que fazer para diminuir essa distância. Outra preocupação é a divisão sexual do trabalho em casa, o desafio de dividir com igualdade as atividades domésticas.
As reflexões sobre o reconhecimento e a valorização da mulher no núcleo familiar e sobre os espaços que vêm conquistando no acesso direto à renda fez com que percebessem a sua importância, porém reconhecem que precisam de orientação técnica para o escoamento e comercialização da sua produção.
Como proposta para a ASA ficou a necessidade de uma assistência técnica continuada, onde tenham apoio e aprendam as práticas de economia solidária, elaboração de projetos e  organização em associações e cooperativas a fim de melhorar a renda familiar.
A convivência com o semiárido passa pela luta por acesso à terra e à água e, sobretudo, pela conquista e efetivação de direitos. Por essa razão não se pode pensar na construção de uma sociedade justa, igualitária e plural sem considerar a igualdade de espaços e direitos entre homens e mulheres.
“Pra mudar a sociedade do jeito que a gente quer, participando sem medo de ser mulher” (Zé Pinto).